Efeito El Niño: como ele pode influenciar a safra de soja 2023/24?

Efeito El Niño: como ele pode influenciar a safra de soja 2023/24?

September 14, 2023

Efeito El Niño: como ele pode influenciar a safra de soja 2023/24?

No Brasil, o mês de setembro é marcado pelo início do plantio da soja, especialmente nas regiões centro-oeste e sul. No entanto, os sojicultores brasileiros estão preocupados com os efeitos do El Niño na safra de soja 2023/24.

Caracterizado pelo aumento das temperaturas e da umidade, além de ocasionar chuvas irregulares, o efeito El Niño exige máxima atenção entre produtores rurais.

Por isso, cabe aos produtores rurais monitorar as condições climáticas da sua região para que consigam aproveitar toda a janela de plantio e a tecnologia que ele pretende empregar no campo.

Fenômeno El Niño: o que é?

Após duas safras com incidência de La Niña, que afetou a produção de soja na região Sul, agora é a vez do El Niño gerar dor de cabeça para agricultores. 

Mas você sabe o que é o El Niño?

Assim como o La Niña, o El Niño determina mudanças nos padrões da temperatura da superfície do Oceano Pacífico Tropical. Consequentemente afeta o transporte de umidade e, portanto, provoca variações na distribuição das chuvas em várias partes do mundo — inclusive no Brasil.

O El Niño também é representado pela fase positiva do fenômeno chamado El Niño Oscilação Sul (ENOS). 

Assim, quando ele está em atuação, o calor é reforçado no verão e o inverno é menos rigoroso. Isso ocorre porque ele dificulta o avanço de frentes frias no país, fazendo com que as quedas sejam mais sutis e mais breves.

Consequentemente, a expectativa é que o El Niño cause secas na região Norte e Nordeste do país (com chuvas abaixo da média), e provoca chuvas excessivas no Sul e no Sudeste do país.

Essas condições também são consequência do enfraquecimento dos ventos alísios, responsáveis por manter a MEC (Massa Equatorial Continental) na região amazônica. Tal ocorrência impede que estes ventos influenciem o clima no centro-sul. 

Sem essa relação, a MEC se espalha e incide também sobre as demais regiões, afetando o clima.

Já é possível saber se o El Niño afetará a produtividade da soja?

Produtores sabem que é impossível ter certezas sobre o clima. O volume, a distribuição e a regularidade da chuva são insumos que não se pode comprar, arrendar ou travar preço. 

Assim, geralmente ele vive a incógnita sobre qual é a expectativa exata de produção da sua lavoura todo ano. 

Contudo, para a temporada 2023/24, o El Niño já deu as caras e precisa ser considerado por agricultores, mesmo que seja cedo para saber com qual intensidade o fenômeno vai se manifestar.

Mas, historicamente, percebeu-se que o El Niño também eleva a probabilidade de chuva no verão, o que poderia ser um fator de favorecimento da cultura da soja. No entanto, o maior volume de chuva não significa boa distribuição. 

A soja é uma cultura muito sensível, de ciclo bastante curto (115 e 125 dias), com fases fenológicas muito bem definidas. Assim, mesmo com alto volume de chuva, alguns períodos críticos da safra de soja poderão enfrentar ausência de chuva e alta temperatura.

Por consequência, as chuvas irregulares podem atrapalhar o plantio da safra de soja, podendo comprometer também a janela de colheita e atrasar o plantio das culturas seguintes.

A abundância de chuvas no Sul e no Sudeste também pode levar a ocorrências de inundações e encharcamentos, prejudicando a entrada de maquinários no campo para plantio e colheita.

Planejamento é a chave na gestão da safra de soja

De forma geral, o planejamento sempre foi a chave para alcançar maiores produtividades da safra de soja. Sob efeito do El Niño, este planejamento merece ainda mais atenção dos agricultores.

A expectativa de instabilidade da ocorrência de chuvas causada por esse fenômeno climático exige do produtor um melhor planejamento da janela de plantio da safra de soja. 

Assim, é imprescindível adotar as melhores tecnologias de plantio, pulverização e colheita, assim como boas práticas para que a safra de soja tenha a produtividade esperada.

Dentro desse pacote tecnológico usado para produzir bem mesmo sob efeito do El Niño, se destacam:

Para um cenário onde pode haver a falta de chuva (Norte e Nordeste):

  • Definir muito bem quais são as cultivares mais adaptadas à região de plantio, considerando os possíveis cenários de falta de chuva (como as que possuem um sistema radicular mais profundo, por exemplo);
  • Fazer bom manejo do solo, estruturando-o e dando a ele maior capacidade de armazenamento de água para suprir as necessidades para quando faltar chuva;
  • Realizar o plantio direto para facilitar a germinação devido à maior umidade do solo mantida pela palhada.

Para cenários com aumento da temperatura e/ou irregularidade e aumento da precipitação  (Centro-Oeste, Sudeste e Sul):

  • Assim como no outro cenário, antes de mais nada deve-se fazer a escolha das cultivares de acordo com as características das regiões de plantio considerando essas possíveis mudanças de temperatura e precipitação;
  • Dar preferência para cultivares resistentes a doenças fúngicas e outras que são favorecidas em ambientes de alta umidade;
  • Realizar a semeadura no período recomendado;
  • Cuidado com o período para realizar a adubação, pois alguns nutrientes podem ser lixiviados com as chuvas;
  • Utilizar a pulverização aérea para manejo, uma vez que os solos podem ficar encharcados e impedir a entrada do maquinário para o controle de pragas, doenças e plantas daninhas. 

Vale reforçar a importância do monitoramento constante das previsões climáticas para a região onde se pretende conduzir a safra de soja. 

Todo esse monitoramento deve estar alinhado com cada uma das atividades realizadas, influenciando diretamente o planejamento das atividades.

Também é importante o monitoramento da lavoura de forma recorrente, pois, como já comentado, ao elevar o volume de chuvas, o El Niño passa a ser um fator que favorece o surgimento de doenças, pragas e daninhas. 

Assim, caso julgar necessário, o produtor precisa estar pronto para controlar pragas, doenças e plantas daninhas na sua lavoura, inclusive por meio da pulverização aérea.

Por fim, é preciso afirmar que o El Niño é um fenômeno climático que não podemos controlar, mas um eficiente planejamento e o monitoramento constante ajudam o agricultor a evitar surpresas desagradáveis, permitindo a adoção de ações para reduzir prejuízos.

Aproveite para ler este artigo exclusivo e entender porque a preparação do solo pode impactar na eficiência da pulverização.